====== Pais Apostólicos ====== {{ :blog:paapo.jpg?300nolink |}} (por //um monte de gente//) Não é segredo que gosto dos textos bíblicos - tenho alguns artigos aqui no blog e até um projeto [[https://www.catarse.me/paralelosdoevangelho|maiorzinho no catarse]]! - e esse livro entrou na minha mira assim que soube da existência dele: a primeira geração de cristãos escreveu os evangelhos e as cartas dos apóstolos (ah, e o apocalipse), mas a produção de textos da comunidade não parou nela: dá para dizer que a seleção de escritos deste livro é da segunda seleção, e alguns deles até foram cotados parar entrar no cânone do Novo Testamento! • **primeira e segunda cartas de [[https://pt.wikipedia.org/wiki/Papa_Clemente_I|Clemente]]**: a primeira carta foi escrita para os [[https://pt.wikipedia.org/wiki/Corinto|coríntios]] por volta de 96, que se rebelaram e ele manda um textão cheio de exemplos do Antigo Testamento, dá uma indiretona nível "//obedeçam à Igreja, estamos sempre certos, senão vocês vão pro inferno//" e chega a citar o mito da [[https://pt.wikipedia.org/wiki/F%C3%A9nix|fênix]] como animal real e símbolo da ressurreição dos fieis =p A segunda provavelmente é bem mais tardia e foi erroneamente atribuída àquele bispo de Roma. É um sermãozinho sobre boas obras e castidade, também cheia de citações da Bíblia e até de um evangelho apócrifo, o de [[https://pt.wikipedia.org/wiki/Evangelho_de_Tom%C3%A9|Tomé]], que dizem pender pro gnosticismo. • as **cartas de [[https://pt.wikipedia.org/wiki/In%C3%A1cio_de_Antioquia|Inácio]]**, começo do século II, são para diversas comunidades: [[https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%89feso|efésios]], [[https://pt.wikipedia.org/wiki/Magn%C3%A9sia|magnésios]], [[https://pt.wikipedia.org/wiki/Aidim|tralianos]], [[https://pt.wikipedia.org/wiki/Roma|romanos]], [[https://pt.wikipedia.org/wiki/Filad%C3%A9lfia_(L%C3%ADdia)|filadélfios]], [[https://pt.wikipedia.org/wiki/Esmirna|esmirniotas]] e uma para Policarpo. Enquanto o bispo é sendo escoltado de [[https://pt.wikipedia.org/wiki/Antioquia|Antioquia]] até Roma para ser executado. Apesar disso, o autor consegue passar sua mensagem de fé e dar algumas broncas às comunidades, nas entrelinhas. Chega até a ser engraçado, volta e meia ele critica e avisa um monte de coisas, com certeza dando uma direta pra algum grupo de fiéis e, de repente, diz algo assim "//não é por ter ouvido alguma coisa desse tipo de vocês que estou escrevendo isso. Não, estou avisando vocês, só//". Seeeei... A grande exceção é a carta pros romanos, que é basicamente assim "//povo de Roma, to chegando, não intercedam por mim, quero ser martirizado. Se necessário, vou chutar a bunda do leão pra ele ficar bravo e acabar comigo de vez. Repito: esse martírio é meu e não o tirem de mim!! ò_ó//". To meio WTF com esse texto até agora. (//e confesso que comecei a leitura das cartas com birra dele porque pede pra obedecer bispo ali, diácono lá.... mas depois percebi que na época eram cargos de um cenário e uma estrutura bem diferente das igrejas atuais//) • **[[https://pt.wikipedia.org/wiki/Policarpo_de_Esmirna|Policarpo de Esmirna]]**, aqui, tem uma carta aos [[https://pt.wikipedia.org/wiki/Filipos|filipenses]] e uma narrativa do seu martírio, com direito a discussão com autoridades romanas em defesa da sua fé e uma fogueira que não o queima. Também tem a curiosidade que os cristãos eram acusados de ateísmo (afinal, não acreditavam nos deuses **deles**) e o procônsul manda ele gritar "fora com os ateus" e o bispo, claro, repete sem problema algum :P • a **Didaquê** é meio que um rápido manual da igreja primitiva. • e metade do livro é o **Pastor de Hermas**, pelo jeito foi escrito em latim no século II também. É um livro cheio de linguagem simbólica, mas sem o impacto da [[https://pt.wikipedia.org/wiki/Apocalipse|obra de João de Patmos]]. O narrador tem uma série de cinco Visões, doze Mandamentos e dez Comparações. Como os outros documentos, é bem carregado da doutrina do período, e também é repetitivo e cansativo às vezes, mas apesar de tudo, acho legal a estrutura e o uso de elementos fantásticos (não muito criativos, mas tão lá) como metáforas da mensagem que o autor quer passar. Ah, três coisas: li este livro em 2019, então estou ~resenhando~ em cima da minha memória, das anotações que fiz na época e da introdução do livro :P A outra coisa é que é muito sensível a tentativa de se manter a hierarquia da Igreja, já nas primeiras décadas de Cristianismo. Por último, parece que algumas cartas paulinas tem sua autenticidade posta em cheque inclusive por aludirem a um cenário mais parecido com o que se vislumbra nestes textos que ao que se entrevê nas outras epístolas. # **Veredicto:** é o tipo de livro que amplia muito a compreensão do contexto que resultou na formação do que chamamos de Novo Testamento, além, de claro, nos dar uma janela para o que os primeiros cirstãos acreditavam e faziam. # Bom: como documento histórico, e talvez para compreensão de alguns aspectos da própria fé, é valiosíssimo. E o Pastor de Hermas tem algumas idéias legais, narrativamente falando. # Mau: às vezes é cansativo, às vezes é hierárquico demais, e às vezes dá vontade de dizer "ah, tá" pros autores :P 272 páginas por edição • 2017 • [[https://www.mundocristao.com.br/pais-apostolicos-classicos/p|veja no site da editora]] {{ :blog:3coracoes.png?nolink |}}