(por Rafael Calça e Jefferson Costa)
Estou fazendo essa resenha 1) com algum atraso (alguns eventos pessoais acumularam e tive de lidar com uma coisa por vez) e 2) sem a outra Graphic MSP do Jeremias em mãos, o que melhoraria o texto, já que as duas fazem parte de um conjunto e, aposto, que eventualmente vem uma terceira para fechar uma trilogia (já que esse formato anda de moda faz tempo, pra tudo).
(também melhoraria o texto se eu fosse competente em resenhas, mas abafa isso, pfv)
Assim como em Pele, em Alma o tema racismo é abordado de forma delicada e inteligente. O aspecto tratado com mais ênfase é o de desvalorização da cultura negra, da pilhagem feita em cima dela, e do resgate e reconstrução. O “inimiguinho” da vez, Pierre Valentim, é um achado de odiosidade, tanto pelo seu preconceito raso (lembrando muitos ~profissionais do humor~ que existem por aí, do tipo que lamenta a “censura” e que “antigamente era mais fácil fazer piada” e outros mimimis), quanto pela sua apropriação de uma obra criada por um negro (não vou dizer quem :P) sem dar os créditos.
Inclusive o autor dá um tapa com luvas de pelica na gente por que deixamos nos fazer esquecer que vários autores fodões da literatura brasileira e mundial, daqueles que estão em livros didáticos, eram negros.
Há outras passagens sutis, ao menos para mim, tipo personagens conseguirem uma grande conquista e no fundo não se sentirem merecedores - a sociedade sempre disse que ter isso ou aquilo, ou estar ali é direito só de determinado grupo, não dessa gente.
# Veredicto: merece releituraS.
# Bom: além do que já falei? Os extras, que apesar de terem sido bem poucos, enriqueceram mais ainda a obra explicando parte do caminhão de referências usadas na história!
# Mau: não sei, não é uma obra perfeita, mas é difícil apontar um Grande Problemas aqui. Tipo, não peguei várias coisinhas (e tem coisas que só peguei por testemunhado conversas e threads sobre, tipo a síndrome do impostor citada acima) e talvez muitos leitores não pegarão, mas acho que isso não seja um problema por si só. Algumas soluções também podiam ser melhores, tipo o confronto com o inimiguinho, ficou vago o seu destino (ostracismo?), mas talvez não dar uma resposta seja a melhor opção narrativa.
96 páginas • R$ 34,90 • 2020 • revista na página da editora
Queria aproveitar e apontar um grande defeito inerente à maioria das Graphic MSP, e que NÃO aconteceu aqui: os extras são repetitivos. É sempre a mesma coleção de rabiscos, e as mesmas etapas de confecção de páginas.
Imagino que os softs usados pela maioria sejam parecidos, e provavelmente boa parte dos artistas se conhecem das mesmas escolas/faculdades. São pessoas talentosas, mas de técnicas parecidas, quase que uma pasteurização no método.
Enfim, ver uma linha de montagem funcionar uma vez é legal, educativo. Agora, ver isso trinta e tantas vezes, não é.