(por Inori)
Esse foi um livro que até que rápido de ler (na verdade, é o primeiro de uma série de cinco volumes) e que achei bem divertido, mas acho legal explicar duas ou três coisas antes de partir para a resenha do livro em si^^
(tenham em mente que as explicações tão bem por alto e não sou especialista. Sintam-se livres para comentar se falei melda =p e, também pus os devidos links para artigos na Wikipédia)
A primeira é que no Japão existe uma categoria de jogos voltado para o público feminino chamada Otome Game, onde a personagem do jogo, entre outras coisas, resolve desafios, vive uma história/aventura e se relaciona com personagens masculinos em busca de romance, gerando rotas narrativas diferentes para cada uma de suas escolhas, as amorosas inclusive.
Enfim, uma forma diferente de se contar uma história.
Apesar de ser pouco conhecido por aqui, é um estilo de jogo bem sedimentado por lá e com seus clichês e arquétipos bem conhecidos. Caso tenha curiosidade sobre o gênero, encontrei dois sites nacionais que parecem ser bem abrangentes no assunto - mas admito que testei NADA por pura preguiça com jogos - eles comem um tempo que não tenho.
A outra é que, também no Japão, existem as light novels: histórias escritas em linguagem mais simples e direta, publicadas em capítulos em revistas ou na web. Se fizer sucesso, são compiladas em livros e se fizer mais sucesso ainda, ganham adaptação em mangá, anime, etc. Muitas obras japonesas estão fazendo essa trilha.
E Me Apaixonei Pela Vilã (私の推しは悪役令嬢“Watashi no Oshi wa Akuyaku Reijo” no original, ou abreviada apenas como só “WataOshi”) é uma light novel autopublicada na web pela própria autora sobre Rei Oohashi, uma trabalhadora comum de escritório, que morre de excesso de trabalho e de repente se vê como protagonista de seu otome game preferido, Revolution. De imediato encontra a vilã do jogo, Claire François - o grande obstáculo em sua busca do amor por um dos três príncipes do reino - e não pensa duas vezes: se declara à ela.
Sim, Rei é lésbica (portanto, essa é uma obra yuri :P) e fará de tudo para conquistar sua personagem preferida, a vilã que deveria praticar todo tipo de bully contra a protagonista no jogo, e que supostamente é hétero XD
(nota: o “R” de Rei é o de caRo, não o de caRRo. Ela não é um rei, e há um na história)
Apesar de alguns receios meus com esse tipo de história de personagem reencarnando em outro mundo (explico na resenha do segundo volume^^), a premissa era interessante além do fandom estar fazendo barulho o suficiente para me atiçar a curiosidade, peguei os dois primeiros volumes na feira da USP e decidi ler assim que descobri que as letras eram grandes o suficiente para quem precisa de óculos ler sem eles :P
O primeiro capítulo, “Reencarnação para um Mundo de Jogo de Romance”, é o mais complicado de ler: a autora - talvez por ser iniciante - está direta demais, meio que pressupondo que seu público é habituado com os clichês de otome games e os de personagens que morrem e vão para outros mundos (os chamado isekai). Ela mal explica como e quando Rei morreu (na verdade, a minha leitura deu margem para até não ter acontecido a morte :P), também não se preocupa em construir a vilã ou a personagem principal - aposto que tem muita projeção da própria autora nela. Inclusive, Rei Taylor (o sobrenome mudou naquele mundo) é INSISTENTE demais, quase que predadora, com fortes traços de masoquismo (:P) e isso também cansa e falta carisma.
(um questionamento que me fiz durante a leitura: Rei conhece cada personagem bem demais - era fã obsessiva de Revolution, conhece cada meandro do jogo -, eles não são profundos e tem os vícios de comportamento apresentados no jogo. O quanto eles são pessoas e não brinquedos na mão dela?)
Quanto aos outros personagens, falta voz própria à eles. Tanto que em alguns diálogos, a autora não identifica quem é quem e não dá para ter certeza alguma da identidade do dono de algumas falas =_=“
Quer mais um defeito? É uma história escrita em série, um capítulo por vez para seu público (tipo a minha, Michiko...) e como os capítulos curtos tem de ter um começo/meio/fim, algumas estruturas narrativas se repetem e se repetem, especialmente piadinhas. Sinceramente, isso é inevitável nesse formato folhetim, mas deveria ter sido revisado e corrigido quando publicassem em formato romance. Enfim, tem cara de ser coisa do mercado de lá.
E, mesmo assim persisti: todos os reviews diziam que a série melhoraria, os personagens seriam melhor desenvolvidos, ganhariam mais dimensões que zero e tal.
Lá pela página 70 sinto alguma evolução e sinceridade das personagens indo além da muleta das estruturas repetidas e mais punhado de páginas a protagonista se abre numa conversa sincera sobre sua sexualidade, jogando um pouco de luz sobre o comportamento um tanto tosco de Rei. A partir daqui senti que começou a valer o dinheiro e o tempo gasto^^
“Cavalaria Academial” é o segundo capítulo e o status quo das personagens muda um pouco (isso vai acontecer diversas vezes no decorrer da série) e o relacionamento entre Rei e Claire evolui - apesar da estrutura “uma dando em cima e a outra se esquivando” continuar lá :P. Nesse capítulo acontece diversas passagens de dia a dia que curti demais (os chamados ”slice of life“) e nossa heroína começa a demonstrar que está fazendo bom uso de conhecimentos que só ela tem naquele mundo inteiro. E aqui Rei, que é a narradora de quase todo o livro, explica para o leitor como teve o coração salvo, na vida passada, por Claire. É uma das coisinhas mais dolorosas que li em tempos...
(também é curioso ela não sentir saudades da vida anterior, eventualmente até cita um irmão mais novo)
O terceiro capítulo, “Movimento Plebeu”, nos mostra que este é um mundo rigidamente dividido entre nobres e plebeus, me fez perceber que o nome do jogo - Revolution - talvez não seja à toa. É o capítulo mais agitado deste volume, com monstros, situação de gravidade, investigações, traições e onde Claire começa a parecer mais humana. Politicamente, é meio superficial, mas funciona :P
Por fim há um continho, no ponto de vista de outra personagem, contando o passado de Claire. Definitivamente, ao terminar de ler, achei as idades dos personagens tem de estar totalmente erradas, ninguém se comporta daquele jeito com tão poucos anos :P Mas, dá para ler nas entrelinhas que o cânon do jogo abre uma porta de esperança para Rei Taylor ;)
# Veredicto: Começo difícil, mas devorei assim que as dificuldades ficaram para trás. Atualmente estou finalizando o volume dois e procuro vítimas que estão lendo junto para poder comentar :P
# Bom: Representatividade, fora ser uma história leve na pretensão e no estilo. A autora logo aprendeu a criar ganchos interessantes entre as partes e já me peguei anotando coisa ou outra para as minhas próprias histórias :P
# Mau: Além dos problemas da própria história, há erros de revisão, fora que senti falta da explicação de algumas questões culturais bem japonesas estranhas aos brasileiros. Não é só a autora que se acomodou com o seu público :P
Tem também ponto de um casal que deveria ser chocante, mas foi bem mal desenvolvido; uma passagem que você acha que existe um espírito maligno na história e é apenas um clichê de anime utilizado de forma errada ("sim, professora") e gostaria muito de puxar a orelha da tradução pelo uso da palavra "trap" em certo ponto.
328 páginas • R$ 39,90 • 2021 • compre no site da editora
Esse texto ficou enorme de grande (gostei do livro, mas mais expliquei e reclamei do qualquer outra coisa...) e queria falar mais alguns pontos. Como são cinco livros, e acredito que as próximas resenhas não serão tão hipertrofiadas, deixo meu blablablá extra pras próximas oportunidades ^^