Mushi de ponta cabeça - parte um

A vantagem de ter estourado o pé tantas vezes é ter conseguido o contato de taxistas nas idas e voltas para consultas, trocas de gesso e fisioterapia. Assim, pegamos um da lista e fui pra Guarulhos.

(se já estava gastando horrores desde que inventei essa história, não ia pegar um mercede com motorista e cobrador pra chegar lá, né?)(fora que é um aeroporto tão fora de mão que quase se necessita de avião para chegar...)

(comentaram no outro texto que uso muitos parênteses) (isso é verdade) ()

Cheguei lá trocentas horas antes, como recomendado, passei pelo check in (para certificarem quantas malas o mala aqui tava levando), depois pela fila de checagem do passaporte (que está em reformas para ampliação e onde ouvi pérolas tipo "que vergonha, parece uma Venezuela" e "mas viu que vai melhorar, vão privatizar!". Eu tinha entrado numa filial do PiG e não sabia!! =_=)
Depois passamos por mais uma fila, da segurança, onde tenho de colocar bagagem e tudo de metal na esteira pra ser checado pelo raios-x (não sabia que os computadores tem de ser colocados numa bandeija a parte) e eu passei por um detector de metal. Se alguém me lembrar que uma modalidade disso tem no meu trabalho, leva ¬¬'. To de férias!


Pobre que é pobre tem de tirar foto de avião quando embarca o/



Esqueci de comentar no post anterior: quando eu comprei as passagens em fins de janeiro, eu sairia do Brasil 27 à tarde, chegaria em Londres dia 28 depois do sol raiar, ficaria uma horinha lá e chegaria em Tóquio antes das 5 da matina do dia 29, no aeroporto de Haneda. Na volta, eu sairia dia 8 pouco depois do sol nascer, chegaria na manhã de Londres (fusos horários e a mágica de transformar um vôo de 10 horas em três), ficaria ONZE horas na cidade e chegaria dia 9 de madrugada em Sampa.

Quer dizer, dava mais que tempo para dar um pulinho na terra da Rainha na volta, né? Animado, contatei a @menciclopedia para conhecer a cidade na parada de volta pro Brasil.

Só que... fim de março, a British Airways decidiu mudar algumas coisinhas: na ida, em vez de ir pra Tóquio direto, eu daria antes uma paradinha de uma hora em Seul. Imagino que houvera muitos cancelamentos por causa do terremoto e colocar mais uns perdidos em terras sul-coreanas no bonde ajudaria a diminuir o preju. E também seria a única vez que eu colocaria os pés na Eurásia, já que tanto a terra do Imperador quanto a da Rainha são um punhado de ilhas.
Mas nem dez dias depois, mudaram de idéia e minha passagem na terra da Pucca foi cancelada. E mais dez dias depois mudaram tudo novamente outra vez: na ida eu ficaria SEIS horas em vez de uma em Londres e chegaria em Tóquio no aeroporto de Narita, mas dessa vez em um horário de gente, depois das nove da manhã. Mas na volta é que houveram mais estragos nos meus planos: o aeroporto também trocou pra Narita, sairia quase onze da matina de lá, chegaria as três da tarde em londres, ficando lá CINCO horas em vez do montão de horas que eu tinha antes :/ Considerando tempo gasto na burocracia para sair do aeroporto, no transporte de ida e volta para cidade e que eu tenho de estar poucas horas antes do vôo no aeroporto, os planos de passeio ficaram seriamente balançados. Vou te contar, a BA parece uma empresa aérea venezuelana, espero que privatizem logo* para melhorar.

Pra terminar, eu continuava chegando por aqui às cinco e tralalá da madrugada. Meh.




A primeira parte da ida foi tranquila: peguei corredor, conversei com brasileira que estava indo visitar Londres e a comida brincou de ir para meu colo. Descobri que tinha um mapinha no vôo que dizia onde estávamos (o trajeto foi ligeiramente diferente do que marquei no globo, óbvio) e fiquei brincando de checar altitude (11km!), posição e a temperatura lá fora (40 a 60 graus negativos...) quase todo o tempo em que fiquei acordado 8D




Chegando no chão, depois de várias voltas até autorizarem o avião pousar - já que tudo estava cheio por causa do casamento real - comecei a prestar atenção, qua a coisa é séria e eu não tinha mais a muleta da língua portuguesa: mushi, lê as instruções no avião, abre os ouvidos, segue placa, segue gente, sorria, não faça brincadeiras sem graça por que esse povo não é pago para rir delas.
Mas até que me saí bem seguindo a manada: mostra passaporte, passo sem problemas, vai na maquininha de raios-x, tira computador, coloca na bandeija, tira mochila das costas, coloca na bandeija, coloca chaves e moedas na bandeija, passa por baixo do sensor.

- Passport, sir?

- Hm?

- Passport.

Ops. Deixei o passaporte em cima da mochila, que caminhava via esteira para debaixo dos raios-x.

Estiquei o braço apontando e fiz a minha melhor cara de "tá ali, foi mal".

- ...ah... ok... -_-'

Além da cidade, aposto que o saco dos funcionários do aeroporto também estava cheio com os turistas.









Falei que Heathrow é enorme e tem até um trenzinho levando os passageiros entre as seções? O saguão de espera é gigantesco, com trocentas lojas e preços inflados (em libras!). Depois de dar mil voltas, decidi trocar alguns dólares comprados em priscas eras pela moeda local e comer, já que eu teria um chá de cadeira imenso. Fiz um lanchinho básico, enrolei, andei, fiquei vendo a BBC falando de um assunto só nos telões, etc.


Comendo e twittando. E meu primeiro lanche internacional!
(falei que nessa terra eles colocam abacate em sanduíche? o.O)




Cueca com mapa do metrô londrino. Depois quem é brega mesmo?



Uma coisa que achei legal foi ver os funcionários de origem hindu e muçulmana com o traje do aeroporto modificado para suas crenças: quando fui pegar o avião para o Japão, quem nos levou até o aeroplano foi um senhor hindu de uns cinquenta anos, de turbante e barba branca bem arqueada ouvindo música da terrinha no ônibus :D




Como suspeitei, o vôo para o Japão foi quase vazio (praticamente ninguém nas poltronas do meio), tanto que fomos levados de onibusinho para ele. Do meu lado, só um japonês e muito sono na cabeça, já que viraríamos a noite no ar.

(Claro que ninguém consegue dormir as 10 horas inteiras de cada etapa e fiquei tirando fotos da janelinha e checando o tal mapa: curiosamente, cruzamos a Dinamarca, mas houve um desvio para não passar por sobre a China)

Antes de chegarmos em terra, a tripulação nos torturou com o horrível café inglês de bordo (agora sei por que preferem chá) e com o igualmente ruim café da manhã inglês de bordo (horrível e gorduroso... salsicha defumada, um omelete alien e cogumelos, coé??), e também distribuiram o formulário da alfândega japonesa mais a ficha de desembarque para preenchermos**.

Quer fazer amigos estrangeiros? Leve caneta e aguarde o momento para sair emprestando. Fica a dica X)


Enfim, Japão. Cruzei o país de oeste a leste...




...o que me permitiu ver neve pela primeira vez na vida, mesmo que a onze mil metros de altura XD Eu poderia ter visto na Sibéria, mas era noite e eu estava dormindo de qualquer forma :P



Pousamos. Sabe a ficha de desembarque? Ela tem interessantes questões no estilo "sim ou não": "Você já foi deportado do Japão ou teve entrada negada anteriormente?", "foi considerado culpado em processo criminal no Japão ou em outro país?", "você está carregando narcóticos, maconha, ópio, estimulantes ou outras dorgas, espadas, explosivos etc?"... fiquei pensando quem é que seria bobo de colocar "sim" em qualquer uma pergunta dessas, até que na primeira fila pra checagem de visto, vi um casal de franceses (ou belgas) perdidos que estavam quase colocando um X em todos os quadradinhos com "はい/yes" o.o' Ajudei os dois a preencher corretamente, a pedido de funcionária japonesa (desesperadamente educada com tanta gente para só ela administrar). Tem enganos que são legais acontecer apenas em filmes X)


Acredito que isto seja sério, né?



Minha vez de ser atendido. Funcionária japonesa. Meu conhecimento de nihongo está tão íntegro quanto a usina de Fukushima. O meu de inglês parece Three Mile Island. Ela faz perguntas numa língua, depois na outra com sotaque. Ela quer saber quanto tempo vou ficar, quando vou embora, etc, estas coisas. Pego papel e caneta, meu inglês escrito é MUITO melhor que o meu falado (mas minha caligrafia... -_-') Tento me explicar, começo a sacar papeis e papeis de reserva de vôos, hotel etc da bagagem. Ela me libera com cara de quem diz "vaza"! XD




Nota rápida sobre os dois idiomas: japonês é uma língua extremamente silábica com verbo no fim da frase e relativamente poucos sons; inglês é uma coleção de onomatopéias e grunhidos com verbo no meio.
Então, imagine as dificuldades de um falante de uma língua tão certinha tentando falar naquele espasmo vocal que é nossa língua franca: daí que japoneses tendem a serem péssimos falantes de inglês! O único ponto de concordância é que em ambas as línguas você escreve de um jeito e fala de outro...





Vazei e fui para o moço do raio-x. Mais perguntas, mais caneta e papel e mais uma vez fui dispensado logo. Acho que aprendi uma técnica ninja.

Por fim, peguei a mala que já me esperava nas esteiras e saí, onde meu amigo esperava o mala que chegava do Brasil :)

Japão 2011
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Notas:
* a British Airways é uma empresa privada desde 1987
** quem quiser ver os bichos documentos a serem preenchidos antes de entrar no Japão, aqui estão eles em detalhe: alfândega frente, alfândega verso, desembarque frente, desembarque verso.