Estes dias encasquetei que sou uma pessoa cheia de ritos, de só fazer X se Y acontecer.
Então, fiz uma lista de "objetos mágicos" para a transição:
• Raising Heart, a jóia de
Nanoha.
• O remédio que Mihari dá para o irmão em
Onimai.
• Água de Jusenkyou (de
Ranma ½,
o lugar imaginário que inspirou o visual deste blog =p)
• O app de
Majitora.
São coisinhas de anime/mangá que decidi fazer réplica na vida real. Se possível, também terá:
• Bandeira das Mahou Shoujo (isso
existe por aí e achei legal)
• A
jóia que Minami tem na forma de garota mágica em Majitora.
• Do clipe
I wanna be a girl, a
fita de cabelo que o personagem põe.
• Algo de Sailor Marte, mas acho que já me basta ela
em formato SD, que tenho e que me guarda junto de Illyana Nikolaievna Rasputina (na foto, também tem minhas personagens, que quem cuida sou eu, e, well, Glycon).
• E, ter uma versão material de
Coração Ígneo seria muito foda!!
É besteira, sim, mas senti que preciso desse tipo de muleta e se der em algo ou em nada, vai ser divertido artesanar um pouco. Três dos quatro primeiros itens já tenho partes e rascunhos... =)
Começo do mês, talvez fim do passado apareceu na minha cabeça as palavras "
trinta dias". Eu estava pensando na sempre parada transição e puf, a mensagem surgiu. Sinceramente, é o tipo de coisa que me aparece na cbeça quando algo não acontece e preciso me iludir que algo vai acontecer, tipo "
namorada chega do hospital depois do terceiro carro branco virar a esquina" e, claro, não acontece.
No dia seguinte, de novo "
trinta dias". Oooooook. E dias depois, numa sexta, aconteceu do
psicólogo me aparecer com uma
lista de endócrinos que atendem trans.
Se é um sinal ou não, não vou dizer, mas decici aproveitar a inércia do espírito... depois de curtir namorada no fds.
Na segunda, voltando para casa, ouvi uma mísica brega cantando "
♪ você tem menos de um mês ♫". Depois descobri que entendi a letra errado, era "
♪ você fez em menos de um mês ♫", mas senti que definitivamente o recado estava dado. Na terça comprei umas coisinhas pra montar a lista acima e me dispus a fazer a pesquisa na lista de contatos, mas namorada torceu o pé e só a noitona, depois de uma maré de pequenos eventos inoportunos, consegui trabalhar nisso:
Primeiro, conferi se algum dos profissionais estava no meu convênio do meu trabalho. Não =_=
Já que era assim, fui para a fase dois, a peneiragem:
Boa parte dos doutores de São Paulo tinham conta no instagram e, como nenhum médico em era alguma parece saber usar e-mail, e ando com paúra de WhatsApp, decidi usar a rede de fotinhas como forma de comunicação (
psicólogo veio daí, por sinal). Aproveitei e naveguei os perfis, risquei da lista as contas encerradas ou trancadas. Depois, as arrobas que não falavam de transição foram deixadas de lado - interpreei como amigáveis, mas não especializados nisso. Sobrou tipo meia dúzia de nomes e rascunhei uma mensagenzinha para enviar a cada perfil:
"
Olá, desculpe invadir este espaço^^
Gostaria de informações sobre disponibilidade de atendimento e valores de consultas para terapia hormonal para pessoas trans.
Obrigada pela atenção :)"
...quando vi que três deles te permitiam mandar mensagem sem a necessidade de adicionar o contato como "amigo", e como estava com preguiça, mandei mensagem só para eles.
Na manhã seguinte dois responderam, sendo que uma já foi direta, numa mensagem bem amigável com valores, endereço etc. O outro também foi todo educado, mas pedia para eu contatar no WhatsApp... ^^'''
Enfim, depois de alguns telefonemas e mails, tenho consulta para endócrino marcada, e, se der certo, o mundo que se cuide: as coisas vão começar a ficarem como deveriam ter sido desde o começo ò_ó
No roadmap que pus na minha cabeça, baseado em relatos e relatos, a transição é um treco mais ou menos assim:
1) achar psicólogo, porque vou precisar do suporte para os baques internos e externos. Feito.
2) achar endócrino, para fazer a transição hormonal, que é o que mais faz "estragos" no corpo da gente, o ponto crítico de não-retorno. É nesse passo que estou agora.
2½) procurar fono + aprender a me expressar no feminino (roupas, cabelo, make....) etc + cirurgias estéticas. Aqui são coisas que poderia ter começado antes, mas estou indo e voltando e indo e voltando. Para variar, ponho culpa na covid, mas tem minhas inseguranças etc. O passo dois, espero, vai me forçar a me mexer, porque algumas coisas podem acabar visíveis com o tempo.....
3) lá longe, aquela cirurgia que vocês estão pensando e que nem sempre a pessoa trans faz (por medo de cirurgia, de não achar necessário, etc).
Só que sou lenta, uma parte pela insegurança: pavor de pegar profissional preconceituoso ou simplesmente tosco, de pagar mico social, vide minha dificuldade em assistir "Red" sozinha.
Uma parte porque tenho pavor com telefone, odeeeeeeeio falar. Só consigo trabalhar com público porque não faço muito contato visual e conheço MUITO o "roteiro" das conversas dos atendimentos, então é um terreno que domino e me sinto segura.
E outra parte porque tenho altos e baixos, "menina on" e "menina off". Isso era mais sensível quando ninguém sabia, o desespero de avisar "sou mulher", logo seguido por "
é uma besteira, logo passa". Quando me caiu a ficha e comecei a informar as pessoas e ser tratada no feminino por gente querida, essa pressão interna deixou de ser tão forte quanto era. Mas ela ainda existe e entre as fases "
preciso procurar endócrino" vem as fazes em que deixo para lá, né? Tá cômodo como estou.
Tem também a questão de eu ainda estar com meus pais e nunca achar um espaço para conversar. Acho que será de boa, mas será estranho.
E também, como já repeti umas dez vezes, tem a pandemia, que atrasou tudo e a todos, e teve momentos meio "deixar de ser eu", sobre os quais até fiz até uma thread que vou reproduzir aqui, porque quero documentado em algum canto além do tuínto:
12:37 AM · Feb 10, 2021 • um insight que teve hoje, talvez seja falso, mas aqui é pra anotar estas cousas mesmo:
Trabalhar no banco estes dias, tá cansativo. E não exatamente de hoje ou de agora que estou sendo esmagada por poucos colegas contratados, multidões para eu atender, etc.
12:42 AM • Na verdade, comparado c novembro ou dezembro, esse começo de ano está um refresco até, com picos ocasionais de loucura. Mais de uma vez tive cliente explodindo na minha frente, por frustração de horas de fila, sol, chuva e ñ ter o que queria/precisava/esperava quando eu atendia.
12:44 AM • Fora a tensão de agência cheia, entupida, fila lá fora dobrando o quarteirão e pressionando para entrar na agência, não querendo saber de nada.
12:44 AM • Covid é tão sólida quanto o homem do saco e máscara é só uma imposição para atrapalhar a vida deles, vinda sem lógica de alguma liderança que só reconhecem por causa do medo.
Esta pandemia está pior, mas sempre tiveram dias ruins.
12:46 AM • e apesar dessa merda toda, inclusive o medo de trazer o vírus para casa, para meus pais com mais de 60 anos, eu tento e pareço manter leveza. A um nível tóxico segundo algumas :P
12:53 AM • e, daí a percepção: eu desligo, me reduzo ao mínimo, quantos menos sistemas estiverem ativos na tempestade de bosta, menos estragos vou ter. Foco no serviço feito, foco na hora da saída, foco em descansar, foco em organizar, foco fazer paralelos, foco no meu 'to do' diário.
12:54 AM • Não dou corda pra frustração, pra medo, pra estresse, pra raiva.
É meu mecanismo de defesa, é bem mais lucro ficar menor e não ter o cérebro comido pela carga de energia ruim que passa por mim.
12:55 AM • só que sou joaninha, né? não um tatu bola. Não é saudável ficar na defensiva sempre, e graças a Deus 1) a tempestade tpa amainando 2) gosto de criar 3) tem terapia :P
12:59 AM • e desde o semestre passado estou mais focada nas minhas histórias. Primeiro o livro, depois decidi fzer ilustrações para ele, depois outras coisas criativas novas aqui e ali, atualmente estou ensaiando voltar às tiras e tem minoridades q estavam paradas sendo reativadas
1:03 AM • e, talvez, pq ainda não entendo meus ritmos e essa thread é uma tentativa de entender, fico também com vontade de me expressar no feminino, ou o que imagino que isso seja. Não que coisa ou outra eu já não tenha incorporado, mas era só coisa ou outra, ñ era hora para mais q isso.
1:07 AM • E estes dias dei comentarios randons sobre roupas e até óculos Eu ter escrito aquilo me deixou curiosa comigo mesma, eu tava relativamente quieta até :P
1:14 AM • Odeio escolher palavras À 1 da manhã, inclusive esse horário faz as coisas parecerem mais grandiosas do que são. E palavras erradas ainda nos jogam lindamente no ridículo.
1:14 AM • Quando eu tava fechada, aguentando as pedras eu só existia na inércia, desligada de partes importantes.
Agora estou num momento diferente e estou gostando muito dessa retomada na criação, e noto que, no processo, o "ela" querendo aprender também a se expressar como ela é.
1:14 AM • é esse o insight, desculpa a volta enorme^^
(é pouco, mas qualquer coisinha pode gerar um furação lá fora....)
(
vou dizer que as mensagens acima tem ano e meio, mas ainda tem coisa que ainda estão desligadas, inclusive tive um evento muito chato, talvez traumático na sua forma, lá pela virada de ano que deve ter levantado barreiras, assim como um pequeno conflito que tive no começo do mês)
Mas não vou esticar muito aqui: esse texto está demorando demais para ser escrito (já são alguns dias) e isso significa que o estalo inicial está se dissipando. Fora que, né, ritos: quero escrever esse texto para partir para o seguinte, uma coisa empaca a outra e meu processo de desistência de atividades é bem lento.
Só queria pontuar que estou contando os dias até a primeira consulta - mas sem refletir muito nas expectativas (tenho algumas) ou consequências (tenho meus receios) - e fazendo as contas, por que além de tudo, vão haver gastos e meu bolso não é tão grande assim. $_$
Enfim, uma coisa de cada vez. E, enquanto não consigo dar passos visíveis na vida real, vou montando minhas representações reais de objetos imaginários^^
E, para não perder o hábito de falar besteira, me identifiquei com essa plaquinha: