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blog:o_longo_nao-fim_de_semana

Essa é uma revisão anterior do documento!


O longo não-fim de semana

O monotrilho de repente entra numa chuva forte e assim como ela chegou some....

Algumas horas depois, na sexta, fomos em três comer numa pastelaria franqueada perto de onde moramos. A especialidade da casa tem recheio na primeira mordida, o espaço é arejado e os donos já nos reconhecem de tanto que fomos lá.

E o longo não-fim de semana começou aí, entre mordidas, conversas gostosas, tudo regado à coquinhas geladas: de repente apareceu um vento forte, levantando sacos de lixo e jogando para a rua, poeirão, logo jogado de volta ao solo pela chuva abrupta, quase horizontal, tingida por raios. A luz caiu e a chuva inacreditável durou, se muito, uns quinze minutos.
Assim que estava seguro para sair, pagamos a conta e descemos a rua escura. No caminho, nos espantamos com alguns galhos caídos antes de ver que uma árvore inteira tinha caído sobre um carro caro e importado =p

Entregamos a terceira elementa do casal na casa dela e fomos para nosso prédio e subir trocentos apartamentos, sem luz e sem elevador. Em casa, namorada ligou para Enel que prometeu “três horas” e tomei coragem para um banho frio antes de dormir.

Sonhei que estava em algum lugar legal e que a luz já tinha voltado, “nove e meia”. Acordei, achei que o sonho estava otimista e voltei a dormir. Nesse sonho, a luz não tinha voltado ainda.

Sábado fiz algo que não fazia faz tempo: esquentar leite na leiteira para começar o dia - bendita a hora em que “resgatamos” o fogão (longa história) - , dar uma arrumada no caos e ouvir namorada rir alto de nervoso: Enel prometia volta da luz em três horas. Era o novo “setenta e duas horas”, pelo jeito.
Saio de casa para meu passeio sabadal pelo Centro Velho e Paulista, para transformar meu salário em papel. Ela sairia depois de mim, para encontrar amigas num encontro de “pré-aniversário” (coisa de adulto, já que não dá mais para juntar todo mundo sem longo encaixe no horóscopo das agendas), só que o restaurante em que marcaram estava fechado por causa do apagão =/

Enquanto me desloco pela metrópole, vou recebendo as notícias: meus pais também estavam sem luz. A promessa é de que retornaria até segunda. Sogros também.

Ando a tarde toda e enrolo para voltar, temendo chegar ao que encontrei: o sol se pondo e a rua toda sem luz =_=' Em dado momento, namorada diz que está voltando e decidimos nos encontrar no meio do caminho: a luz do restaurante foi restaurada ao meio-dia, o encontro com as amigas aconteceu. Ela levou as duas para um ponto de ônibus, a avenida lá estava um breu.
Jantei nesse restaurante, outro em que os donos conhecem a gente. Vantagens de ter uma companheira anos-luz mais simpática que eu :P

A semana se encerra sem luz e a gente sem banho: acreditamos que a luz voltaria naquele dia mesmo e o que aconteceu é o prédio todo sem água, já que a bomba dependia de energia elétrica para funcionar. E nossas “três horas” viraram “até segunda”
Oinc.

Decidi começar o domingo sem café com leite: não queria sujar a outra leiteira que tínhamos, talvez fosse necessária na segunda, para encarar o trabalho. O dia foi todo de arrumar coisas em casa (a estante de RPG's, o enfeite de chaveiros, os DVD's de becape), esperar a luz voltar e ir comer na padaria (funcionando com gerador, 400 reais a hora), e aproveitar para usar o banheiro.
Meus planos eram fazer duas tirinhas e criar outras coisas, sabe? Provavelmente só terei outro fim de semana todo em casa mês que vem ou em dezembro.
Agora tinha de fazer planos de como tomar banho, e o que faria com o almoço de segunda, já que costumo comprar a comida domingo e preparar de manhã. Sem geladeira, isso não tinha como ser feito.

Fomos na casa da terceira elementa que foi à pastelaria conosco, tirar o grude da pele e trocar um dedo de prosa. Decidimos jantar numa padaria bonitona que raramente fomos, na Brigadeiro Jordão, e o estabelecimento tocou o terror na gente: costumamos pedir a comida e uma coca de dois litros para tomar e levar o restante para casa. Ali tinha um preço diferenciado, mais caro, de TRINTA E CINCO REAIS para o refri servido na mesa. Mas poderíamos pegar em lata, em que o custo/benefício seria melhor. Comemos, ela ficou puta da vida com razão, e eu achei a mentalidade da direção do lugar no mínimo mesquinha, daquele tipo de mesquinhez que está adoecendo o país. Lá a gente não volta mais e dei pistas no texto para que vocês também evitem o lugar.

No sábado tinha visto um enorme cabo rompido e caído no chão. No domingo, tinha um carro da Enel finalmente arrumando o dito e ficamos na expectativa de que isso Resolvesse o Nosso Problema Amém. Ficamos olhando da janela, mesmo com um quarteirão inteiro escondendo o caminhão, dava para acompanhar o pisca-písca do veículo lá longe, indo e voltando no mesmo trecho durante a noite toda. Por volta da meia noite, ele vai embora. Eu tinha praticamente terminado de arrumar os livros na estante de RPG, decidi descansar ao lado de namorada e conversar gostoso com ela. Conversa vai, conversa vem e ela percebe algo acontecendo no corredor e olha para o teto: “ei, o ventilador está funcionando. A luz voltou!

Era meia-noite e vinte sete de segunda-feira.
Tínhamos a água e energia elétrica de volta.
Não tivemos nosso final de semana.

Estou numa cidade em que tanto o prefeito quanto o governador são nocivos e uma parte significante da população vota em qualquer bosta falante para “não ter a esquerda no poder”, sem motivo lógico. Tanto que o prefeito, que tenta se reeleger sem ter feito o básico, só está no cargo por ser vice de um morto falante, com grife e tudo o mais.

Quanto à empresa de energia elétrica que não sabe fazer o básico: esse tipo de serviço deveria ser feito por empresa pública. NUNCA DEVERIA SER PRIVATIZADO. Água também (e a empresa paulistana foi entregue abaixo do preço de mercado...), educação e saúde deveriam ser públicos e universais de verdade (e estão sucateando o que temos justificar concorrentes privados péssimos, inumanos e caros), entre outros serviços estratégicos à população e ao país. O essencial e público não deveria ser posto à venda.

E, sejamos óbvios, a função de empresa privada não é entregar um trabalho de qualidade, o objetivo de uma empresa privada é dar lucro para seus donos. Seja cortando funcionários, cobrando mais caro pelo básico “plus”, não fazendo “gastos desnecessários” tipo manutenção preventiva e outras coisas. Em nome do dinheiro, não do país, do bem coletivo, da população.

Discussão

mushi san, 2024/10/14 21:22

Complemento: namorada cancelou pilates hoje pq está se sentindo suficientemente sarada de tanto subir e descer escadas (na verdade, as pernas dela não aguentam mais =_=')

Adriana "Strix", 2024/10/15 07:40

Daaaang, semana sem luz já é tensa, mas fim de semana é crueldade. Ainda bem que voltou, mas fica mais um abraço apertado pras duas nesses tempos frustrantes.

Rafael, 2024/10/17 12:26

“No sonho, a luz não tinha voltado...”

Na vida real, menos ainda DDDDD:

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