Provavelmente eu vá brincar com roupas nessa virada de ano :3
Por curiosidade sobre a
triagem do mês que vem, procurei referências na internet e acabei conversando com outra moça que está fazendo tratamento por lá. Conversa vai, conversa vem, acabei falando das experiências que fiz na minha cara com maquiagem e acabei empolgando ela, que nunca tinha tentado.
Mais tarde, falei isso para outra amiga, que estranhou:
"
gente, sério???? Achava que make era uma das primeiras coisas que vc vai brincar"
"
roupa!"
"
pq é algo fácil de mexer e esconder, se precisar"
"
vestido, sutiã, saia. Make dá pavorzinho de nao tirar da cara a tempo"
"
eita. Roupa acho bem mais difícil de esconder xD"
"
aih vc rouba da pilha de roupa pra passar. Dá um rolezinho rapido no qto, mata vontade, poe de volta. Maquiagem eh uma arte, roupa eh soh se enfiar dentro."
Rafael não é trans, até onde sei, mas to sem imagens para ilustrar esse post.
E gosto dessa sequencia de tiras que fiz :P
Pra ser sincera, demorei a primeira vez só pra dar essa "voltinha". A frase de
PROIBIDO dentro da minha cabeça era grandona, vermelha e piscante. Foi aquela guerra interna de dias, falando pra mim mesma que é bobagem eu fazer isso, não podia, não devia,
blablabla. A tentação estava lá, sobre um monte de roupas só dobradas esperando o ferro. Se eu tocasse, queimaria a mão, se vestisse, me amaldiçoaria - ou vice versa.
E eu já era adulta.
Não lembro exatamente que peça foi e se vesti ou só coloquei por sobre as roupas normais (
sim, esse é o tamanho da minha trava interna: mesmo colocar roupa feminina por sobre as de sempre dava tilt), mas foi um nervoso seguido da sensação de ter conquistado o Everest. Yay \o/
Algumas experiências depois achei eu mesma comprar minhas roupas, afinal, a gente sua, está suja, geralmente fazia minhas "experiências" após o banho. Ninguém merece sujar uma roupa-recém lavada que nem é nossa, né? Ainda mais "roupa proibida".
(
lembrando agora de amigo que usou vestido num carnaval e disse que foi "libertador". Não duvido dele)
Com os poderes da internet, pesquisei preços e
números de roupas. Fui num carrefour bem longe de casa, comprei dois sutiãs e algumas besteira para "disfarçar", fiz cara de paisagem pro caixa e....
...eram meus *-*
Nas semanas seguintes, sozinha e, ao menos uma vez, com ajuda de amiga, comprei tudo que me era proibido e tive a mais remota curiosidade em experimentar: saião, saia curta, meia arrastão, calcinha (é....). Praticamente só vestido que não porque são relativamente caros e pedem medidas demais para serem comprados com medo de alguém vir fazer perguntas.
Para meninos com curiosidade técnica do que é vestir as roupas do lado de lá, minhas impressões do que lembro:
•
Sutiã: enchia com meias, depois com bexigas cheia de água. Tem lá sua graça se ver no espelho, com tudo debaixo da camiseta. Pena que a cara continua a mesma porcaria de sempre =_=
Alças incomodam, mas peguei skill de colocar e tirar, o que ajudou em alguns namoros ;)
Mas é aquilo: é um símbolo forte que depois se torna só mais uma peça que você não tem porque usar. Não tenho peitos :P
•
Saia curta: usei pouco, mas serei óbvia: a movimentação é bem reduzida se você não quiser que olhem pra baixo dela.
•
Saia comprida: é mais legal :D Eternamente acostumada com calças, que são relativamente coladas na pele, não imaginava que as pernas batiam no pano a cada passo. É, eu sei, é besta, mas aposto que a maioria das pessoas não pensa nisso até usar :P
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Meia arrastão: também me lembro pouco. Chatas de vestir? Descem fácil demais, acho.
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Calcinhas: vou colocar tarja preta aqui porque é exposição demais, apesar que não falarei nada demais:
comprei aquelas com tecido parecido com o de cuecas, nunca vi graça naquelas cheias de renda e frufru. No fim é a mesma coisa, só que com um enfeitezinho (tanto nas roupas íntimas de cima quanto nas de baixo, caso não tenham notado) (por sinal, num dos meus primeiros ficamentos/namoricos me surpreendi, ao avançar as mãos por dentro das roupas dela "ei, tem uma borboletinha aqui!"
) e com espaço a menos na frente, mas como mulheres tem mais necessidade de espaço pros lados, o 3D da coisa acaba se equilibrando... é só a parte de menino não se animar :P
Por sinal, isso das partes masculinas "se animarem" também é problema com saias, vestidos etc se o tecido for mais leve :PPP
Mas, com o tempo a graça da novidade passou na proporção da neura de ser descoberta. Eu sempre guardava todas estas peças bem guardadinhas, mas o número estava crescendo... e uma dia coloquei tudo numa dessas caixas de doação de roupa.
A experiência tinha valido muito, mas acabou e nunca mais (tipo, isso foi na década passada) comprei ou vesti roupas de mulher.
Apesar de não me identificar como crossdresser (pessoa que se veste com roupas do sexo oposto), e provavelmente essa fase foi isso mesmo, lembro de ter visto em uma comunidade no orkut que elas tem as fases de urge/purge: querem roupas, depois se arrependem e dispensam elas. Depois querem de novo... e por aí vai. Eu só tive um ciclo desses, apesar de sempre reclamar que a "menina vai, menina volta" na vontade de ser reconhecida no meu gênero e de agir como tal.
Outra coisa que li nessas comunidades era a piadinha: "qual a diferença de uma crossdresser para uma trans? Dois anos" - Só digo que demorei mais :P
Agora minha situação é outra: eu me reconheço no feminino, cada vez mais. E sei que não preciso de todos os símbolos femininos em mim, na verdade a maioria das mulheres usa calças na maior parte do tempo e odeia ter de usar sutiã, então não ~preciso~ dessas roupas em mim - não existe mais aquela frase de
PROIBIDO gritando pra mim como antes (
ela só grita menos agora) - , mas quero experimentar, brincar, aprender como me expressar com panos e cores também.
E o ano tá virando, e nunca liguei para as superstições de virada do ano, mas falei pra amigas meio que brincando meio que maldosa usar
calcinha amarela pra chamar dinheiro :P. Aí duas sugeriram camisetão para fazer de vestido. Depois outras duas sugeriram colocar um cinto (aí uma terceira sugeriu que não: sem cintura e com barriga, eu vou ter é uma bad como já tive antes =/) e agora to pensando em colocar uma maquiagem básica, acho que ninguém vai estar por perto comigo.
Bom, se alguém que não pode saber ainda que sou menina estiver perto de mim, vou estar vestindo a simpatia pra chamar dinheiro, só digo isso ;)
Só quero ver eu, em véspera de virada do ano, correndo que nem louca em lojas e no centro atrás de peças de roupa que não tenho...
O texto tá grande, mas ainda quero por umas notas:
1) a doente aqui dá preferencia em vestir as camisetas mais altas e esticar o mais pra baixo possível pra fingir que é outra peça de roupa .-.
2) está chegando o dia da triagem (na verdade, é quase fim do mês que vem) e já to preocupada com adequar meus horários de serviço com a terapia, se me aceitarem.
3) mês passado (novembro? outubro?) sonhei que tava tomando remédio por conta, mas eram só duas pílulas: a primeira anulava os efeitos da testosterona e a segunda, que tomei 'dias depois' (tempo de sonho), eram os hormônios femininos (quer dizer, em sonho eu tava reproduzindo o que li sobre terapia hormonal). Mas lá mesmo parei de tomar, porque era perigoso sem acompanhamento profissional, e muito concordo com quem escreveu o roteiro desse sonho. Valeu, superego!
4) preciso falar de internalização antes desse assunto ficar velho até pra mim, mas me acostumei a me chamar no feminino, mas ainda estranho me chamarem no feminino. Talvez por causa dessa vida dupla que tenho.
5) e-mail de amiga me identifica como "Márcia Regina" e fico toda
awwwn quando recebo mails #
besta
6) o Natal me desinibiu e avisei muita gente, depois de dar uma parada nos avisos. Faltam algumas pessoas que gostaria de conversar, mas faz tempo que não tenho canal com elas.
e as notícias vão se espalhando
7) se eu soar idiota em algum momento, m'avisem :P