Dia 16/11, um sábado de feriadão emendado (
comecei este texto poucos dias depois do evento, terminei em pouco mais de uma semana) amigões se casaram, depois de anos de namoro e morando juntos com uma gata fofa :) Como a cerimônia de casamento era em outro estado e o ambiente era amigável, alguns meses atrás o casal me veio com a seguinte proposta indecente:
-
Venha de menina, vai ser sua estréia (não foram estas as palavras, mas basicamente foi isso :P)
Como fiquei: *-*
Mas não sem uma sombrinha de insegurança, de dúvida se isso (de eu "estrear") aconteceria mesmo:
(
Spoiler: vou narrar a parte chata, lenta e cozinhando, mas a parte legal vem depois e pra mim foi 324534523 vezes mais importante e fogos de artifício :D)
Ano passado me empolguei pra um evento, também em outro estado e aparentemente acolhedor pra gente diversa, em que poderia ter sido a minha "
primeira vez". Com essa possiblidade aberta e naturalmente empolgada, conversei com amigas sobre a idéia - precisava de idéias sobre o que vestir e de apoio in loco também - e logo fui às compras, acompanhada de gente legal :), pegando umas peças de roupas, mais sutiã e enchimento pra colocar alguma silhueta nesse corpo quadrado com barriga de bolinha, etc etc.
(
Foi nessa aventura nas lojas de roupas femininas do centro que aprendi na prática que roupas F são pra hobbits....)
Mas, quando chegou o dia, já na outra cidade, senti falta "de pilha" de quem estava comigo: eu estava empolgada, mas o mundo externo não estava vibrando junto com meu mundo interno e eu esvaziei como um balão.
Mais tarde, indo "de menino" no local, vi que o transporte até lá (busão) seria problema (eu, estreando em roupas de mulher em coletivo.... brrr) e o ambiente fora do evento seria outro problema. Talvez, dentro da lógica, o melhor foi eu ter feito o que (não) fiz.
Só que lógica é uma coisa, as camadas mais internas da cabeça da gente são outras e aquelass impressões voltaram, segurando minha empolgação.
Assim, esse ano só fui às compras uma vez (uma brusinha)(que tive de trocar por que, por
increça que parível, era um número maior que o meu o.o), fiquei de comprar um par de tênis "neutro" (e não o fiz) e acho que só. Nesse meio tempo aconteceu (e continua acontecendo) a mudança de casa da gente, e isso também consumiu recursos de tempo e cérebro. Uma amiga (a mesma das compras acima) me emprestou algumas roupas pra eu testar, mas no caos eu praticamente só as testei na véspera da viagem, quando eu já estava pondo em dúvidas se realmente me vestiria "diferente", eu e o universo estávamos juntos em baixa vibração. Pra piorar, perdi algumas das minhas coisas femininas na mudança - estão em alguma caixa.
De qualquer forma, por via das dúvidas, pus tudo o que tinha à mão na bagagem e zarpamos.
Aqui vou deixar uma lista de confissões chatas sobre minha pessoa, especialmente no que tange ao tema de todo esse blog, e que sei lá se consigo resolver tão cedo:
• Eu não sei o que fazer, muitas vezes preciso de aprovação.
• Eu tenho a vaga idéia do que gosto, tenho certeza do que não gosto, mas se insistir topo.
• Eu tenho medo de pagar mico, de fazer escolhas erradas, de ser o centro negativo das atenções, mas meu ego infla que é uma beleza às vezes.
• Eu tenho a forte tendência de me recolher às sombras, à insignificância, ficar quieta na minha zona de conforto, para não incomodar, não ser a pidona repetitiva. Não é desinteresse. Tem horas mesmo que preciso ser pilhada e puxada pela mãozinha.
• Quando vou às compras com meninas (ok, não foram tantas oportunidades), eu sou aquela que tá plantando a fruta enquanto as outras já estão mascando o palito do sorvete: as pessoas já estão na fila do caixa enquanto ainda pensando o que é válido ou não para compor um desenho que não está 10% pronto na minha cabeça, daí desisto e sigo a trupe pra não segurar o rolê.
(
e mantive todos os "eu" do texto porque tem muito de egocentrismo da minha parte aí, tem muita coisa aí que preciso digerir melhor. Inclusive ninguem é abrigada a aguentar minhas besteiras)
Chegamos na cidade na véspera do casamento, logo fomos pra um shopping local encontrar o povo e almoçar. Batemos perna lá dentro, entramos em algumas lojas. Eu estava mais pra observadora, não tava afim de nada e não vi nada que me chamasse a atenção, aquele dia estava praticamente consolidada a decisão de ir de menino mesmo e a estréia seria adiada, já tinha me acostumado blablabla ("
mimimi, drama pwincess", diz a ala da minha mente que me dá broncas).
No dia seguinte, geral foi pras ruas do centro fazer mais compras de emergência (o casamento seria em um punhado de horas!) e fui junto, ainda na mesma vibe espiritual, mas com bichinho novo nas caraminhola: "seria legal se alguém te sugerisse, opinasse, te incentivasse aqui e... ei, estão te deixando de canto?". Não, não estavam me deixando de canto, era só um pensamento egoísta dando as caras, daqueles que conheço bem, que enche o saco e, por mais que eu diga "é isso não", fica lá e mina meu humor, ainda mais ainda mais cansada da viagem
e sem chocolate 99% cacau no organismo :P
Só que, perguntada, acabei desabafando de forma
exagerada (e que não gostei de ter feito) por não terem me esperado comprar um tênis (o tal "neutro" que falei lá pra cima, idealizado em Converse, influência de velha conversa com amiga) numa das lojas de calçados que passamos. Fomos pra uma loja, compramos isso, perguntaram se eu queria mais nada, não queria não, fomos pros nossos respectivos hotéis, o tempo corria.
Intervalo para: ajudar as duas companheiras de quarto a se arrumarem, aprendermos a passar um vestido de poliéster (usando google e perguntando pras mães usando as redes sociais padrão XD) e -
plot twist! - eu mandar um
foda-se pra frescura e perguntar pra geral: vou com a blusinha roxa que comprei ano passado (e não foi) ou a amarela que comprei esse ano? Ambas na babagem.
"Prova aí pra gente ver", foi a resposta :P.
Pus um sutiã pra esportes que tinha um tanto de bojo (não tenho peito mas quero fingir um mínimo, tá?), ninguém no quarto riu (não achei que ririam, só que tinha aquele 1% de medo sim) e... então, blusinhas (é o nome da peça?) vestidas, fotografadas, votadas entre o povo que estava comigo e no grupo. A roxa ganhou *-*
Mais gente chegou no quarto, fim de arrumações, chegou amiga fez o que pode para me maquiar (mas faltou de tempo, maquiagens e de uma cara melhor pra ela trabalhar :P) (pena que não deu mesmo tempo de testar a máquina de fazer cachos de outra amiga) e fomos todas pro uber.
Cara
eu
fui
pegar
uber
vestida
e
maquiada
Claro que cruzei correndo o saguão do hotel, não olhei pros lados, pra frente, me enfiei no carro com mais gente e sei lá o que passou pela cabeça do motorista (e não afinei a voz ou algo assim, não ia fazer ali o que nunca pratiquei).
As pessoas me perguntam o que
senti finalmente vestindo as roupas de meu gênero? Até ali, eu tava em terreno conhecido, já tinha provado estas roupas (acho que nunca na frente de ninguém, constatei isso agora), aquelas pessoas eram minhas amigas, eu só tava concretizando o que sempre souberam =p O acanhamento só apareceu em algum grau dentro do uber, enquanto eu tava naquela bolha de gente legal, ele mal apareceu :) e tava com medo mesmo de borrar o batom :P
Depois de uma longa viagem até depois da Cordilheira dos Andes (o lugar era longe mesmo, teve uma hora que subimos tanto e descemos que certeza que ultrapassamos a espinha dorsal do continente), chegamos até o lugar do casamento e à hora da verdade (a minha. A dos noivos ia ser logo depois): não olhe pros lados, siga em frente, ninguém solta a mão de ninguém. A cerimônia seria ao ar livre, o lugar era perfeito e são Pedro ajudou abrindo o céu com um azul lindão e achei prudente (além do mais, minha timidez não me deixaria fazer diferente disso) ficar nas bordas: as cadeiras já estavam cheias, o povo estava todo chique (menos eu, me senti bem simprona de jeans e tenis preto, cabelo solto e xadrez roxo/preto do pescoço à cintura) e alguns olhares me estranharam, ou achei isso... neura minha ou realidade, nunca saberemos e nem vou me esforçar pra saber.
Eu me sentia deslocada, mas tinha gente fofa e amada por perto, e não precisava dar satisfações à ninguém: tirando uns três ou menos, todo mundo que me conhecia sabe que sou menina, todo mundo que não me conhecia estava me conhecendo assim, o pontinho xadrez no casamento =^_^= Havia sim um conhecido gente boa que não sabia (nunca houve gancho...), mas conversou comigo de boas sem perguntar nada.
Então houve a cerimônia (
bonita, com gente bonita em todos os lugares e até os passarinhos resolveram cantar) e depois fomos para o segundo desafio: a festa. O local era logo ali, várias mesas circures cheias de gente que não conheço... brrr. A produção não achava meu nome e de namorada, e na dúvida, nos indicaram uma mesa ali no canto, com zero conhecidos.
O ponteiro do meu alerta de timidez estava ameaçando se mover num pulo só para os níveis de alerta.
Só que namorada ignorou a orientação do staff e nos contrabandeou pra uma mesa com praticamente todo o nosso povo e ficaríamos lá até os donos dos lugares nos expulsarem =x ...o que não aconteceu: encontraram nossos nomes na lista, e estavam colocados justamente na mesa em que nos enfiamos :P
#
entei
Daí pra frente foi... festa. Comidas, lanches, depois dança - e broncas de namorada e amigas a cada vez que eu ameaçava prender o cabelo. A noite foi passando e ninguém mais ligava pra nada. A certa altura, no meio da noite, outra amiga (madrinha e que me ensinou quase tudo que sei de maquiagem) fez meus olhos e fiquei assim até uma e tanto da manhã. Eu tava feliz, todo mundo estava feliz! Foi um festão épico que nem o casal e todos meus amigos que estavam lá =)
No hotel, pela primeira vez na vida limpei a maquiagem sem a paranóia de ser descoberta, mas com a eficiência de limpar tudo adquirida com a mesma paranóia :P De qualquer forma, de manhã não tinha certeza se dormi pouco (iríamos pegar o avião relativamente cedo) ou se realmente tinha limpado os olhos direito.
E foi isso^^
Notas: (relatadas ou não, sempre as terei :P)
1) podia ser menos besta e ter usado saias, né? Só a madame aqui estava de calças ¬¬'
2) óbvio que a experiência foi boa e quero repetir :D No fim de semana seguinte ia pra Augusta encontrar conhecidos me conhecem tanto assim e ia repetir a roupinha :P Mas não rolou por falta de tempo. Compensei no dia seguinte comprando mais uma peça de roupa pro meu guarda-roupas =u_u=
3) problema é que gasto um tempão pra levar pouca coisa. Simplesmente o que tá a venda não bate comigo, ou simplesmente não sei valorizar o que está lá X)
4) por um bom tempo só vou ter coragem em "ambientes controlados", portanto, me achem eventos assim :P
5) preciso conversar com pessoas reais para (me) entender. Vale tanto pra disforia (esse blog é um senhor exercício de auto-análise) quanto para as resenhas que faço no blog aberto :P
6) admito que mal falei com estranhos no evento, meio por estar com medo das reações, meio por ser meu default mesmo, que estava reforçado.
7) gosto de algumas fotos do evento, outras nem tanto. Diria que gosto mais das desfocadas que as que mostram detalhes demais (e estou bem ciente que neme essas nem aquelas delas refletem 100% realidade física)
8) além de saias, acho que podia ter brincado mais com cabelo. Bijuterias também e não sei o que enrolo mais em fazer: procurar psicóloga ou furar orelhas (mas podia ter rolado um brinco de pressão...)
9) falei de mim, mas entre os convidados tinha um barbudo grandão com os olhos maquiados. Make foda, depois soube que era drag :D
10) família de namorada perguntou de fotos minhas no casamento. Eles não sabem. Tenho medo =x
11) meu lado mimimi fala que ninguém lê aqui, nem o google, porque ele respeita o
robots.txt
12) minhas bads alternam entre me achar a mais egoísta dos seres e me achar a solitária na multidão. E não só isso.
13) volta e meia reclamo do que chamo de "
síndrome do senhor Miyagi", de ficar esperando alguém que vai me tirar de lá de baixo e me por lá em cima. Falo dos outros, mas é pior quando você deslumbra a possibilidade de ter ela também.
14) como comentei, sei lá se meu nome continua "Márcia", mas ainda acarinho a idéia. Na dúvida, nome de batismo e nome de internet continuam bem válidos, e uma hora tenho uma epifania.