Uns sábados atrás teve um lançamento de livro e uma das autoras, daquelas fofíssimas que dá vontade de por num potinho, me perguntou qual pronome eu queria que me tratassem - afinal, muita gente já sabe que sou menina, praticamente toda a internet menos família e emprego :P - e o burburinho na livraria não me deixou entender direito o que ela perguntou, achei que fosse "nome".
Bom, a escolha do nome foi marco zero pra me assumir como mulher e pra construção desse espaço, mas recentemente vieram algumas questões que tão me fazendo rever o nome escolhido, ou não.
Então na hora eu buguei, a escritora achou que me deixou desconfortável e veio me pedir desculpas depois <3
Aí decidi fazer esse post, com temática "repetida", porque acho que já tratei disso em algum canto aí em baixo mas to com preguiça de fuçar: se possível, me tratem no feminino, mas não ligo se me chamam de "ele". Ainda sou "ele" pra boa parte das pessoas que convivo na vida real, pessoas que sabem que sou "ela" convivem com gente que acham que sou "ele", então eu fico chaveando entre os pronomes o dia inteiro, essas pessoas que sabem também, todo mundo fica doido com a confusão, mas ninguém morreu ainda.
Tem lugares e pessoas que ainda estranho virar "ela" nas conversas, mas é mais quebra de contexto que rejeição, e tá cada vez mais raro. No geral, geralzão mesmo, dá um quentinho no coração quando me citam como "ela", especialmente de pessoas que sabem da transição - que não aconteceu "pra valer", mas me considero em processo. O espelho diz que (ainda) não sou merecedora do pronome, que não uso tanto assim na vida real, mas ele é chato e sabe de nada :P
O que sei, talvez, é que diminuíram os ataques, a vontade de me afirmar, que sou mulher. Sou, quem importa sabe, é um bom começo =)
Ontem acho que foi a primeira vez que falei ao vivo, que to mudando de time (gosto dessa metáfora, desculpe)(e continuo corintiana). Ou melhor: tem comunidades que meu nick é meu nome, e ignoram completamente o "Marcelo" e isso foi assunto da conversa. Aí falei, meu nome é esse, mas mudarei e mostrei meu broche com a bandeira trans - que é praticamente a única coisa que me denuncia atualmente =_=, e expliquei por alto o contexto :P
Nada assim chocante, mas gosto de ver estas "primeiras vezes" tanto quanto alguém me chama de "ela" sem motivo algum, tipo pessoas aleatórias que só vêem o marmanjo na frente e até minha mãe (sim, isso aconteceu!)
Inclusive, vamos ver se nos próximos dias sai psicóloga ou se terei de caçar outra....
Notas:
1) Não lembro se foi sonho ou se foi aquele estado meio avoado que a gente tem antes de dormir, mas eu tinha voz feminina. E, "
poxa, eu tenho voz feminina!", pensava. Não era um sonho de fortes emoções, mas é a primeira vez que isso acontece :P
2) Preciso montar guarda-roupas, furar as orelhas e tudo o mais, sabe?
3) Hábito feminino que tenho dificuldades: beijar rosto masculino pra cumprimentar.
4) Sim, muita coisa não mudou ou não avançou =P Acho que tem gente que até cansou XD
Dias que você queria menos ombro. Dias que você queria menos queixo. Dias de nada disso.
Dias que você acha que é um desastre a acontecer.
Dias que você acha que nasceu com o corpo errado - e nem to falando do que vocês pensaram.
E tem dias que só acho que to sendo menina quando faço xixi, em casa.
Bons dias são os que sou só pessoa, e o gênero e a questão que tenho com ele não se relevam.
23/09/2019
Penúltimo dia de férias /o\
Estes dias dona namorada me disse uma coisa que achei fofa: "que tal você usar saia em casa, quando morarmos juntas?" :3
Fofo pelo "juntas", fofo porque é uma liberdade que não tenho ainda, fofo porque ela acha bermudas quentes e vou ter mais uma opção :3
Mas, pra variar, dei uma relutadinha básica: medo de entrar em comportamentos compensatorios. De me enfiar um monte de símbolos femininos para compensar o fato de não ser cis? De ter uma overdose de doces depois da vida fazendo dieta e finalmente sendo liberada a comer :P
Saias, vestidos são peças de vestuário femininas em nossa sociedade, um símbolo tão forte que temos até a expressão "de saias" pra indicar o equivalente feminino de algo ou alguém masculino. Mas...no ônibus, na rua, metrô ou no serviço eu fico olhando a mulherada, as roupas que vestem. E, tirando algumas seitas que são mais rígidas no vestuário por gênero, a maioria das mulheres usam calças ou bermudas mesmo, usar só um pano em torno das pernas é uma escolha bem específica de temperatura, humor e ambiente onde você vai estar, não a regra.
Ok, cada uma veste o que quiser em casa, não tem regra na verdade...
Mas, eu de saias é eu fazer o que quero ou é aquilo lá de "compensar" que escrevi acima? :P
Não, não precisam responder, to problematizando com besteira, eu sei. Mas encaro roupas (e não só roupas) como uma linguagem, um conjunto de símbolos que não domino, que outras mulheres são criadas e inseridas desde lá atrás e eu to chegando atrasada, bem atrasada. E não gosto de chamar atenção de passar vergonha, sou daquelas que quando tá vendo um vídeo e personagem vai passar vergonha, eu pauso, volto a ver mais tarde, continuo outro dia. Às vezes até abandono a história. Mas essa MINHA história aqui não quero abandonar não, quero seguir, quero achar meu jeito de me expressar, abandonar velhos hábitos, depois resgatar e misturar, transformar e tudo o mais, e...
Voltei a problematizar por besteira, melhorar parar por aqui :P
Existe uma diferença abissal entre o que a mídia diz que são mulheres e o que é a realidade.... e quem não vive a realidade tende a reproduzir o que mostram. É outro medinho meu de comprar roupas: você pega aquela peça linda, aí veste e encontra o demo mal embrulhado no espelho :P
(desculpa a piada, não pude evitar :P) (mas já tive umas bad muito horrorosas e recomendo pra ninguém)
Cês sabem que tenho algumas roupas e raramente as uso, porque vivo com parentes e talz. Mas, vivendo longe daqui, acho que vou encontrar outro problemas pra usar as roupas novas: são roupas novas XD Roupas novas não são pra se usar em casa, roupa nova é pra sair com elas, né? :P
....mas vai demorar pra eu tomar coragem de sair com elas, se sair. #besta
Vamos ver se retomo aqui, escrevi pouco simplesmente porque perdi a sintonia de escrever aqui, não sabia mais o que escrever, pra quem escrever, o que é permitido escrever. O espaço é meu, mas já recebi uma cortada ou outra - e nem foi sobre algo que bloguei - de gente bem intencionada que me deram alguma insegurança.
Outro motivo pro silêncio é que pouco aconteceu, feijoada. De certa forma, virei trans não-praticante, com avanços aqui e ali, mas imperceptíveis praticamente: algum medinho desses tempos medonhos e mais medão de preoucpar e de me afastar de quem muito importa pra mim.
E tem coisas que aconteceram, a mais maior de boa é minha irmã saber :P E algumas coisinhas chatas ano passado que ainda estou digerindo.
Descupa, sou lerda, fazer o quê? Dêem-me pilha!
Ainda na ferrugem de escrita, então postagens aqui e no blog aberto serão meio desconjuntadas por algum tempo :/
...fora que "menina" tá decididamente em baixa desde o começo do ano, com algumas breves e benvindas aparições. 2018 foi um ano com alguns avanços e muitos becos sem saída e brinco que, por ora, sou só
nominalmente trans.
O laser na cara vai indo bem, relativamente. Ainda me faltam uma ou duas sessões, os pelos da barba praticamente acabaram (tirando os fios brancos...), mas o bigode resiste bravamente ¬¬
Obviamente, ainda não tenho coragem de usar roupas (nem tenho tantas...)(nem onde guardar, convenhamos), só volta e meia uso a pulseira velha de guerra <3

preciso comprar mais ^^
Umas poucas vezes ousei utilizar o conteúdo da bolsa abaixo, por medo, vergonha e insegurança:

...mas estas vezes aconteceram, sim ;)
Ah, essa é a maquiagem que está na "outra mochila" que relatei
outra vez :P
E, sempre que estou com a tal mochila, tem meu broche com a bandeira trans - algo tenho de ter, né? XD

a melhor combinação de cores :P
Esse button, começo do ano, sumiu do seu lugar fixo na bolsa um sábado desses que fui zanzar na Paulista. Dei ele por perdido, estes trecos caem fácil demais, às vezes, quando achar compro outro. Né?
Chegando em casa, vi que ele caiu dentro de outra bolsa que carrego o.o
Uns poucos sábados depois, outro sumiço do desinfeliz do bottom, agora que foi embora de vez... e logo descobri que ele tinha caído dentro do lugar mais improvável do multiverso:
o bolso da frente da calça jeans!! o.o
Resumo: parece que tem alguma entidade tentando sumir com o broche, e tem outra contra ela, o guardando em lugar seguro logo em seguida.
Hoje, cheguei na cozinha reclamando que a mochila estava meio pesada (blusa dessa frente fria tão querida + marmita mesmo) e alguém comenta "também, você traz tudo nessa bolsa, deve ter até maquiagem"
- A maquiagem está na outra bolsa :P
Todos riem.
Mal sabem que a make está realmente na outra bolsa :PP
Meses atrás reclamei de gente fazendo piada com trans na cozinha. Semana passada o assunto "trans" aconteceu de novo, inclusive com uma das participantes da outra conversa.... e foi em direção oposta O.O As pessoas respeitando a auto-identificação de gênero das trans, aquela conversa de que "
é nasceu homem em corpo de mulher (e vice-versa), a gente tem de respeitar".
Tive de segurar o queixo enquanto o assunto foi pauta entre algumas garfadas para seguir para outros durante o meu almoço.
Nessa mesma semana chegou uma moça, e antes dela sentar, se apresentou "meu nome é Bárbara" e só quando ela entregou a documentação dela entendi o porquê dela chegar assim. Elogiei a voz - estava perfeita - mas não me identifiquei como menina também =P
E minha colega que sabe ficou dizendo pra outra, na minha frente, "o Marcelo não tem um quê de feminino?" e coisas assim (já a outra dizia "não, não acho"). Ainda to pra chamar essa primeira colega de linguaruda ¬¬'
E, numa nota não relacionada, cliente me soltou um "você emagreceu, né?" E, sim, perdi peso, fiquei feliz pelas pessoas terem percebido.... mas falo disso outro dia :P Já está bastante para um post feito para tirar as ferrugens do blog - e não quero cair no clichê de me desculpar pelo silencião dos últimos meses. A tensão eleitoral foi tanta pra mim que implodiu várias rotinas de leitura, criação, escrita etc e ainda estou no trabalho de reconstrução.
Não vou me forçar.